domingo, 29 de março de 2020

Corona vírus - que nos aproxime e nos torne melhores!


No dia dez deste mês de março de 2020 eu defendia junto à colegas de trabalho, via aplicativo de mensagens, que o Corona vírus seria algo sem maior importância, que passaríamos por ele sem grandes dificuldades, que a sua letalidade era estatisticamente baixa e que atingiria principalmente pessoas mais velhas que em geral já são atingidas, de forma mais danosa, por outras doenças como a dengue ou mesmo as gripes comuns.

Nos dias que se seguiram, à medida em que absorvia novas informações de especialistas da área da saúde, como epidemiologistas, virologistas e pneumologistas, corroboradas pela dureza dos fatos em diferentes localidades, fui mudando de ideia muito rapidamente. Foi decisivo para isso olhar a situação sob a perspectiva da saúde pública que apontava para a possibilidade de um contágio com evolução geométrica gerar uma quantidade de doentes, em estado grave, impossível de ser atendida pelos sistemas de saúde, ao ponto em que muitos morreriam, não por causa do virulento corona, mas por impossibilidade de atendimento médico.

No dia 17 de março duas informações acentuaram em mim a percepção de que já vivíamos uma situação que nos exigia cuidados como indivíduos, famílias, instituições e governo. Essas informações davam conta da fragilidade do protocolo de testes da doença pelos sistemas de saúde (confirmado por uma amiga médica) e do percentual de contágio próximo a 80% por portadores assintomáticos. Nesse dia decidimos, minha mulher e eu, que o nosso filho de dez anos  não iria para escola no dia seguinte, sendo que a escola no mesmo dia decidiu pela suspensão das aulas acompanhando decisões semelhantes da Universidade Federal do Pará e do Governo do Estado do Pará, neste caso para as escolas públicas.

Conforme a calamidade médica e ética se impunha, após a China, à países da Europa como Itália, Espanha, França e Alemanha, punindo de forma mais dura os países ou cidades que mais demoraram a adotar práticas isolamento e distanciamento social, uma sucessão de líderes mundiais, de diferentes matizes políticas e ideológicas, foi mudando de postura e passou a defender a necessidade de isolamento social. A mesma posição foi adotada por lideranças de todas as áreas de atuação, por sérios cientistas e analistas sociais, todos em alinhamento com as orientações da Organização Mundial de Saúde.  Cabe registrar a posição divergente de uma minoria de agentes do mundo político, econômico e intelectual, que a despeito das mortes em número muito superior a capacidade de sepultamento das cidades pelo mundo, seguem minimizando a gravidade da situação. Apenas ontem, 28 de março, foram mais de mil e setecentas mortes nas vizinhas Itália e Espanha. Esses agentes, que mais atrapalham do que ajudam, em geral possuem pouca profundidade intelectual, visão estreita ou uma ética de conveniência, em alguns casos padecem das três características.

No caso brasileiro se vê alguma consonância de ação, que poderia ser melhor, entre autoridades federais da área da saúde, governadores dos estados e prefeitos em vista de ações de enfrentamento a um possível avanço da doença. Vê-se um esforço que aponta para o isolamento e o distanciamento social, orientações para maior rigor em procedimentos de higiene, medidas de incremento à infraestrutura hospitalar com ênfase na ampliação do volume de testagem e na implantação novos leitos e UTIs com respiradores. Mais recentemente a área econômica dos governos estadual e federal, sintonizadas com a conduta mundial, anunciam medidas, que indicam uma compreensão da obviedade ética e civilizatória de que é descabido um dilema entre a preservação de milhares de vida e a estabilidade da economia.

A parte as questões de natureza pessoal, que incluem equacionar financeiramente o fechamento de uma micro empresa, que contribui para a renda familiar, da qual agora restam os custos, o que corresponde a situação de muitos, vislumbramos a possibilidade assustadora dos efeitos do avanço do vírus para as áreas mais populosas e pobres das maiores cidades, simultaneamente à maior ocorrência de outras enfermidades como a dengue e a tuberculose, mas também vivemos a confiança de que, apoiados nas forças espirituais, sob lideranças inteligentes e responsáveis, com o comprometimento de cientistas e equipes de saúde e com o nosso esforço cidadão sustentado em boa informação, superemos essa crise humanitária e que ela nos deixe um legado de mais atenção às coisas que mais importam, que nos deixe boas lições, que nos aproxime e nos torne melhores.

Por hora, conforme possamos, fiquemos em casa!