Um texto qualquer não é científico por se definir assim, mas por atender a padrões mínimos quanto ao uso do método científico. Estas observações sobre o Curso de Biblioteconomia da UFPA, quando completa cinqüenta e um anos de fundação, não postulam a cientificidade, mas pretendem, pelo olhar de um observador privilegiado, informar sobre fatos, lembrando que a informação é insumo para o exercício da cidadania e para a crítica qualificada em diferentes contextos, uma lição elementar em Biblioteconomia.
O exame do objeto baseado em método científico nos exigiria minimamente a definição de variáveis a serem observadas ao longo de um tempo também pré-definido. Algo como se propõe o exame nacional de desempenho dos estudantes – ENADE, do Ministério da Educação. Por essa metodologia, na última avaliação (2009), o curso de Biblioteconomia saiu da primeira para a terceira faixa. No comparativo com os demais cursos no Brasil saiu das ultimas posições para uma posição intermediária. O resultado do ENADE não desconsidera aspectos negativos e deficiências, mas ao examinar e medir diferentes variáveis consegue observar a evolução em cada uma delas. O que teria mudado então no Curso de Biblioteconomia da UFPA no último quarto da sua trajetória institucional, que justificaria esse evidente movimento?
É bem comum que os professores de outras unidades da UFPA que ministram aulas para o Curso de Biblioteconomia fiquem admirados com a sua infraestrutura, que longe de ser a ideal, é bem melhor que a média da universidade como um todo. Pode-se exemplificar que há mais de cinco anos, quando muitos cursos de maior tradição disputavam um projetor de multimídia o curso de Biblioteconomia já os possuía em todas as salas de aula e em seu laboratório; que carteiras estofadas são realidade no curso há pelo menos quatro anos; que o laboratório de informática teve seus equipamentos integralmente renovados duas vezes nos últimos cinco anos. São aspectos facilmente identificados, relevantes, mas seguramente não são os que melhor explicam a melhoria em curso.
Outra variável importante para a mudança de patamar da graduação em Biblioteconomia da UFPA nos últimos anos foi a implantação de um novo Projeto Pedagógico de Curso – PPC a partir de 2009. A despeito da inviabilidade de que o desenho curricular atendesse ao gosto de cada um e preservado o caráter generalista da formação profissional, as mudanças no PPC foram significativas e acolheram os reclamos mais amadurecidos da comunidade bibliotecária nacional e local em benefício da sociedade. Destacamos de memória, sete dessas alterações na formação profissional: 1) a introdução da disciplina Ética e Informação; 2) a obrigatoriedade da disciplina leitura e formação de leitores; 3) o reforço de atividades voltadas para a produção acadêmica como as disciplinas elaboração de trabalho científico e pesquisa e biblioteconomia; 4) os ajustes e acréscimos nas disciplinas instrumentais da computação; 5) a substituição dos estágios em Biblioteconomia I, II e III por cinco disciplinas práticas desenvolvidas sob o acompanhamento permanente de um professor; 6) o incentivo a participação em atividades extraclasse, sobretudo eventos, com a obrigatoriedade de registro de atividades complementares e 7) a introdução da atividade de extensão em biblioteconomia, esta última com o objetivo de forjar o comprometimento social do novo profissional por meio da prestação de serviço à comunidade.
Por fim e possivelmente o mais importante fator gerador de mudança no padrão do Curso de Biblioteconomia nos últimos anos é um expressivo avanço no seu índice de qualificação de pessoal docente – IQPD. Em um esforço que incluiu a realização de um mestrado interinstitucional em Ciência da Informação em convênio com a UFRJ, iniciativas individuais de pós-graduação e o estabelecimento de termo de cooperação com a Universidade do Porto, o Curso passou de uma realidade de um único doutor, dentre seus professores efetivos, para a situação atual de cinco doutores e oito mestres, dos quais cinco em processo de doutoramento, restando apenas dois docentes especialistas, um dos quais, recentemente aposentado. No seu ambiente institucional imediato, o Instituto de Ciências Sociais Aplicadas – ICSA, com suas sete unidades acadêmicas, o IQPD de Biblioteconomia é superado apenas pelos das faculdades de Economia e de Serviço Social, ambas com cursos de mestrado regulares instalados há aproximadamente uma década.
Ressaltamos por fim que o resultado das mudanças em curso não são imediatas e não se desvelam a observadores neófitos. As alterações na infra-estrutura e no desenho curricular combinadas com o melhor preparo dos professores geram mudanças na formação, mas no mínimo no tempo de formação de uma turma de ingressantes no novo contexto. Estas considerações sobre a evolução do curso de Biblioteconomia da UFPA não visam passar a ideia de que não existem problemas a serem enfrentados e metas sociais e acadêmicas importantes a serem perseguidas, mas querem destacar o caráter dinâmico dessa instituição que protagoniza mudanças ao mesmo tempo em que possibilita de forma direta a melhoria da condição de vida de tantas famílias, contribui com inúmeras instituições das mais diversas áreas, setores e localização geográfica, acolhe jovens, com diferentes padrões de preparo e expectativas e lhes oportuniza que se tornem pessoas melhores e respeitáveis profissionais.