No dia 30 de novembro de 2006, na câmara Municipal de Belém - CMB, ocorreu uma Audiência Pública provocada pela Comissão de Educação daquela Casa Legislativa para tratar da atuação do Bibliotecário e do seu Conselho de Classe. A Audiência assumiu caráter de urgência após um membro do legislativo municipal pedir aos seus colegas a aprovação de um voto de protesto contra o Conselho Regional de Biblioteconomia (CRB-2), devido sua atuação nas escolas cujas bibliotecas não dispõem da presença do Bibliotecário. Duas informações sobre o episódio e seus desdobramentos: as Presidentes da Comissão de Educação da CMB e do Conselho Regional de Biblioteconomia são irmãs e o vereador que requereu o voto de protesto é dono de uma escola autuada pelo CRB-2.
O voto de protesto não foi aprovado. À luz das circunstâncias os demais membros da CMB indicaram que a casa não está a serviço dos donos de escolas, mas da comunidade em geral que deve receber de concessionários de serviços públicos, o que inclui esses proprietários, o melhor e mais qualificado atendimento.
É óbvio que toda instituição prestadora de serviços públicos deve dispor de profissionais com qualificação específica do serviço que oferece, ou seja, médicos, enfermeiros e congêneres nos hospitais; engenheiros, arquitetos e outros profissionais da área nas empresas de engenharia; professores com as licenciaturas específicas para o ensino das disciplinas nas escolas. O que não parece estar claro para o personagem do episódio e seus assemelhados na sociedade, é a existência de profissionais com qualificação específica para administrar bibliotecas.
A idéia não é criticar a educação como negócio, mas defender que esse serviço seja prestado pelo poder público ou por particulares com qualidade e seriedade, o que inclui dotar as escolas de infra-estrutura adequada, bons professores, laboratórios equipados e bibliotecas com pessoal qualificado.
No ensino superior público e privado a situação é bastante diferente. O Governo Federal relaciona educação de qualidade à existência de bibliotecas, cobrando das instituições a manutenção de bibliotecas com padrões mínimos. Algumas organizações reagem à fiscalização com o mínimo, outras aproveitam a consultoria governamental e vão além, de modo que existem boas bibliotecas universitárias, não por coincidência, onde são ofertados os cursos com melhor desempenho nas avaliações oficiais.
Na realidade o potencial da biblioteca escolar está longe de ser conhecido. O fato é que na maioria das escolas do Brasil, eterno aspirante de ser desenvolvido, há uma grave deficiência desse tipo de biblioteca e as poucas que existem, pelo modo como são tratadas não conseguem cumprir sua função. Para os que compreendem que ser desenvolvido transcende o bom desempenho dos indicadores econômicos a ausência de bibliotecas nas escolas é, por si só, um péssimo sinal.
É natural pensar na inteligência como uma característica inerente à gestão escolar. O que a realidade permite ver e o episódio mencionado inicialmente ilustra, é que em geral a gestão escolar sequer chega a ser profissional, portanto, incapaz de perceber que uma biblioteca escolar dinâmica é fundamental para o bom desempenho pedagógico e empresarial da organização escolar e tanto pode constituir-se em uma singularíssima vantagem competitiva quanto em um fator crítico de sucesso na complexa tarefa de educar.